"Daqui a cinco anos não há professores suficientes". Retrato do estado do Braille

Faltam professores, manuais adaptados e os processos burocráticos são lentos. É um retrato do estado do Braille por um professor que ensina há 40 anos.

Sara Araújo de Almeida - Antena 1 /
Foto: Hayam Adel - Reuters

O agrupamento de escolas Rodrigues de Freitas funciona como uma escola de referência para a educação de alunos cegos ou com baixa visão. E é lá que Fernando Correia é professor há 40 anos. Neste agrupamento há mais de 30 alunos cegos ou com baixa visão e 13 professores especializados.Fernando Correia explica que já não têm mais professores para colocar, no caso de um adoecer: "Ensinar braille no primeiro ciclo já de si é difícil, mas agora imagine um aluno que opte pela via científica no 10.º ano e tenha matemática, química e biologia no ensino secundário. No país há muito pouca gente habilitada a dar esse apoio. Contam-se pelos dedos e não sei se as duas mãos chegarão para dar o apoio como deve ser".

E com falta de professores, nem os pais conseguem ajudar, porque não "conhecem a grafia matemática Braille para explicar a um aluno do 12º ano".

O futuro é incerto. E o medo é que daqui a uns anos todo o cenário piore. "Daqui a cinco ou seis anos não há professores de Braille suficientes", teme o professor.

"E ou o Governo pensa bom, vamos fazer um esforço, ou então é admitir que o próprio Estado é o introdutor de um processo discriminatório que viola o Estado de Direito", acrescenta.
Manuais "quando chegam, já chegam desatualizados"
Além da falta de professores, os alunos queixam-se dos atrasos nos manuais e de que, quando chegam, não estão adaptados.

"Os manuais primeiro demoram muito tempo a chegar, é bastante demorado o processo e normalmente quando chegam, já chegam desatualizados, porque são divididos em volumes, e por exemplo chegam os três primeiros, mas nós na turma já vamos no que seria o quinto volume do manual, estão desfasados no tempo, conta David, aluno do 12.º ano do curso de Línguas e Humanidades.

O mesmo acontece com os manuais digitais: não estão adaptados para um aluno cego ou com baixa visão.

"E depois também em relação aos manuais digitais não são minimamente adaptados, ou seja, é nos enviado um PDF, um documento digital com um manual, mas não tem qualquer tipo de adaptação, por exemplo, as imagens estão lá, os textos que estão em colunas, por exemplo, o computador vai ler meia linha de um e meia linha do outro seguidas porque está a ler o texto na horizontal, seja, não nos lê os textos separadamente, ou seja, não estão adaptados e não são tão acessíveis", acrescenta David.

Mas há duas soluções para o problema dos manuais. "Uma é criar como critério de qualidade na resposta das editoras a produção do manual em braille. E a outra é criar um conjunto de indicações às escolas: só podem escolher estes. Estes serão feitos, se escolherem outros não. E as escolas aí responsabilizavam-se perante os pais", explica Fernando Correia.
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